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O sistema de produção pecuária na fase de cria

Por Gabriela Beccari Vitroca

03/11/2021 18:12

O sistema de produção pecuária no Brasil, depende de vários fatores como, por exemplo, pastagens, genótipos dos animais, controle sanitário, infraestrutura, gerenciamento, nutrição, etc. Existem três fases de produção, conhecidas como:


• Cria;
• Recria;
• Engorda.


A escolha de qual fase de produção trabalhar, fica a critério do produtor e da disponibilidade de pasto e infraestrutura na propriedade. Alguns trabalham somente com uma fase, outros trabalham com o ciclo completo (todas) ou cria e recria/ recria e engorda. Além dessa categoria de produção, temos outras três, que envolve a forma de manejo: sistema extensivo (alimentação exclusivamente a pasto), semi-extensivo (alimenta-se do pasto e recebe suplementação no cocho) e o intensivo (pasto, suplementação a pasto e terminação em confinamento) (BITELLO, M.F.O., 2017).
De acordo com Cotrim (2020) esse é um diagrama que explica como é dividida a cadeia da bovinocultura de corte:

Fonte: Pecuária: As verdades por trás das histórias que lhe contam. Daniela Cotrim, 2020.

FASE DA CRIA


Essa fase é a mais importante de todo o ciclo, porque ela é a responsável por uma recria de qualidade, para ter novilhas e garrotes que são futuros na reprodução da fazenda. Vale lembrar, que além de produzir bezerras e bezerros, o cuidado com os reprodutores e matrizes são essenciais. O manejo reprodutivo deve ser feito anualmente, e é nele que se inicia todo o processo da fase de cria, onde é feita a preparação das vacas, novilhas e reprodutores para monta natural ou inseminação artificial (FILHO, A. O., 2015).
As matrizes são peças fundamentais em uma propriedade, pois são elas o “carro chefe” da produção, porque os bezerros são a matéria prima para a produção de boi gordo. Para ter um bezerro de qualidade, é primordial a vaca ter condições suficiente, para gerar, parir e “sustentar” um animal sadio e forte. A sanidades dessas matrizes começam quando elas ainda são bezerras/novilhas, para que sejam livres de doenças e se mantenham saudáveis. E por fim, não menos importante, é a parte nutricional desses animais, para que que a novilha chegue com o peso ideal na fase reprodutiva (RESENDE et. al., 2018).


NUTRIÇÃO


O assunto principal quando se trata de vacas de cria é a nutrição, porque é através da alimentação que se pode notar o desempenho reprodutivo, no gado de corte. Para obter uma taxa de prenhez desejada, é fundamental a observação do estado nutricional dessas matrizes, isso é feito através da avaliação do seu escore corporal (ECC), que recebe uma pontuação de 1 a 9, essa avaliação é feita visualmente, o 1 é interpretado como muito magro e o 9 ao contrário, extremamente gordo (PARRA, et al., 2008).
O ECC muito elevado tende a prejudicar o animal, tornando-a ineficiente para reprodução, prejudicando inclusive no parto. Muito abaixo do indicado também prejudica o animal, podendo haver o descarte do mesmo ou levando até a morte pela desnutrição. Os valores do escore corporal ideal variam de 3 a 6 na escala de 1 a 9 e de 3 a 3,5 na escala de 1 a 5. Para explicar melhor a pontuação referente
ao escore corporal do animal, 1 a 5 ou de 1 a 9 foi criado uma tabela (OLIVEIRA et al., 2015):

1 - 1 → Extremamente raquítica, próxima da morte por inanição. Costela, espinha dorsal e anca muito proeminentes. Nenhum tecido gorduroso visual.
1,5 – 2 → Um pouco definhada. Costelas, espinha dorsal e anca proeminentes.
2 – 3 → Costelas visualizadas individualmente, mas não tão salientes. Um pouco de carne ao longo da espinha dorsal.
2,5 – 4 →Costelas individuais pouco ou não evidentes. Pouca gordura sobre costelas e ossos da anca. Pode apalpar espinha, não pontiaguda.
3 – 5 → Moderada ou boa. Gordura palpável sobre as costelas e qualquer lugar de garupa. Espinha dorsal pouco visível.
3,5 – 6 → Necessita de pressão para apalpar espinhas. Considerável gordura palpável sobre as costelas
4 – 7 → Gorda. Um pouco de gordura no peito, boa quantidade de gordura sobre as costelas. Acúmulo de gordura na região da garupa.
4,5 – 8 → Muito gorda. Peito repleto e grande depósito de gordura sobre as costelas, garupa, inserção da camada e vulva.
5 – 9 → Extremamente gorda. Estruturas ósseas não visíveis e não palpáveis.
FONTE: Oliveira et al., 2015


Segundo Filho et al. (2015), o pasto maternidade ou o ambiente onde vai nascer os bezerros é indicado que fique próximo à sede da propriedade, as visitas devem ser frequentes. Ele deve ser bem arejado, com bastante sombra, pasto baixo, mas com alto valor nutritivo por conta da mãe. O ambiente deve ser tranquilo, longe de barulhos e movimento como tratores, carros, cachorros ou pessoas estranhas. Se fornecido nutrientes corretos para as fêmeas prenhas durante o período de
gestação, ajuda no desenvolvimento e maturação do feto, além de que, a mãe mantém um bom estado corporal, o que é fundamental para seu ciclo reprodutivo.
Quais suplementos deve-se fornecer as matrizes? De maneira geral, todos os nutrientes são importantes para a reprodução. A deficiência energética é destacada como a principal influente nas baixas taxas de concepção nas vacas de corte (RESENDE, et al., 2018).


FORMAS REPRODUTIVAS NA CRIA


Para uma vaca continuar fazendo parte do rebanho, ela precisa produzir um bezerro por ano. Entendendo-se que o período gestacional de uma vaca é, em média, de 290 dias e logo em seguida do parto, a mesma precisa de 30 dias para restabelecer os seus órgãos reprodutivos, significa que restam, apenas, 45 dias para que seja feita todo o processo reprodutivo nela e a mesma esteja prenha, para se ter o intervalo de um ano entre partos. Caso a fêmea atrase-se para emprenhar, aumenta a chance de ela ser descartada do rebanho de matrizes, na próxima estação.
As filhas dessas matrizes, são chamadas de novilhas de reposição, porque elas possuem uma genética melhor que a da mãe, e assim serão as futuras matrizes do plantel. Por esse motivo, que a nutrição correta desses animais na recria, pode ajudar a antecipar o início da vida reprodutiva do grupo. Se bem feita a recria, as novilhas conseguem tem uma ciclicidade precoce, podendo emprenhar antes dos dois anos de idade (RESENDE, et al., 2018).


• ESTAÇÃO DE MONTA


A estação de monta é conhecida por permitir a programação da prenhez das vacas em um determinado período. Para que se tenha um nascimento correto das crias, deve-se programar os meses de estação de monta de acordo com cada região do país, entenda: No início do período chuvoso faz-se a estação de monta. Os bezerros iram nascer no início do período seco, período em que o desafio sanitário é menor (RESENDE et al., 2018). O mais interessante da estação de monta, como já falado, é o período determinado para o cruzamento entre fêmea e macho ou a IATF
(inseminação artificial por tempo fixo). O interesse do pecuarista é alcançar uma alta produtividade, uma das maiores vantagens da EM é a padronização do rebanho com lotes homogêneos, para isso é preciso determinar o período que deseja a parição, outro benefício é o descanso do reprodutor, ele é utilizado durante a estação de monta, se recupera o resto do ano, diminuindo o desgaste do touro.
Existem três formas de cruzar na pecuária: Monta controlada, monta em campo e a inseminação artificial. Segundo Santos et al. (2017), a monta natural ainda é o sistema de reprodução mais utilizado no Brasil, consiste em o touro permanecer junto a vaca no período de estação de monta ou durante todo o ano. Esse método tem como “vantagem”, não precisar ficar observando o cio da vaca, entretanto, não é fácil identificar a paternidade dos bezerros que nascem, se o touro ficar o ano todo, não haverá padronização do rebanho (SILVA, 2017).
Resende et al. (2018), afirma que a inseminação artificial tem por sua maior vantagem o melhoramento genético do rebanho, porque é escolhido o melhor material genético de acordo com o que o pecuarista deseja, e também é possível fazer cruzamento entre raças zebuínas e taurinas em territórios tropicais. Para ser realizada IA (inseminação artificial) a matriz precisa demonstrar o cio, o grande problema é que alguns animais, principalmente raças zebuínas, demonstram o cio no período da noite, impossibilitando a detecção do mesmo, perdendo o tempo em que a vaca está ciclando, reduzindo a chance de realizar a IA. Por esse motivo, foi criado a IATF que significa, inseminação artificial em tempo fixo, permitindo inseminar as vacas todas no mesmo dia e em curto período de tempo sem precisar observar o cio. No protocolo de IATF deve-se fazer o uso de hormônios sincronizados para que as matrizes entre em cio em um determinado dia, esses hormônios são produzidos por elas mesmo na fase em que estão ciclando naturalmente, por esse motivo o animal metaboliza sem deixar qualquer resíduo.
Na IATF, umas das vantagens, é conseguir inseminar no início da estação de monta, elevando a taxa de prenhez, possibilitando um tempo de recuperação das matrizes para o novo protocolo na temporada seguinte. Sem contar, que os bezerros
nascidos de IATF, tem um peso elevado ao desmame, consequentemente, aumentando o lucro do pecuarista (SANTOS, et al., 2017).


CUIDADOS COM O BEZERRO


Como já argumentado, deve-se garantir a segurança sanitária das matrizes viabilizando uma gestação saudável e segura até o parto. Em seguida, a atenção se voltar totalmente ao nascimento do bezerro. O desafio principal, é na primeira semana de vida do mesmo, porque o animal, ao nascer, fica exposto a bactérias, vírus, que são agentes infecciosos podendo comprometer a saúde e o desenvolvimento do bovino (RESENDE, et al., 2018).
A gestação de bovinos dura em média de 275 a 305 dias (CAVALGANTE et al., 2001). A maior causa de perdas de bezerro acontecem nos primeiros dias de vida pela falta de manejo, ou pelo mesmo ter sido mal executado. Para que seja feito uma excelente recepção desse recém-nascido, é de suma importância que próximo ao período de parição desses animais, as visitas no pasto-maternidade sejam frequentes, pelo menos duas vezes ao dia, para acompanhar os partos e se preciso for intervir, caso aconteça de haver partos distócicos, vaca que não aceita cria, bezerro fraco ou qualquer tipo de outro acidente que possa acontecer. Após o nascimento do bezerro deve fazer a cura do umbigo imediatamente, despejando o medicamento na inserção do cordão umbilical com a pele. Conferir se ele ingeriu o colostro, morfologicamente, olhando para o vazio do animal já consegue obter a resposta, se estiver muito fundo e o ubre da vaca cheio, ele não conseguiu mamar, caso esteja dessa forma, auxilie-o a mamar. (RESENDE, et al., 2018).
O desmane é considerado um dos momentos mais críticos da vida do bezerro, porque é a período em que ocorre a separação da mãe com sua cria, interrompendo a amamentação. Além da separação da mãe, e sem o leite materno, ele terá mudanças alimentares.
O desmame ocorre de seis a oito meses de idade, quando o bezerro é apartado de sua mãe. No período do desmame o peso dos animais variam de acordo com o tipo de dieta que ele teve durante o tempo que estava se amamentando, da raça e o
sexo do animal. Esse ato é conhecido como desmane tradicional ou convencional, que tem como maior objetivo não prejudicar o desenvolvimento do animal, pois nessa idade o bezerro, já consegue absorver melhor forragens como sua fonte de nutriente principal. O leite materno começa a diminuir a partir do segundo e terceiro mês, então os bezerros têm que suprir a falta desse nutriente por outro. Após a apartação do bezerro com sua mãe o indicado é deixá-los em piquete próximo a elas por dois a três dias, livres de sede e fome (água e forragem), esse piquete deve ter uma cerca reforçada impedindo que o bezerro passe para junto com a mãe (FERREIRA, 2020).
Como já argumentado, o desmame é feito de seis a oito meses de idade, caso a matriz apresente um escore corporal muito abaixo do normal, é realizado o desmame precoce para não debilitar a vaca, preservando assim a fertilidade e saúde das mesmas, podendo aumentar o índice de prenhez em até 50% (RESENDE et al., 2018).
O bezerro pode ter seu desmame precoce se fornecido uma suplementação com alto valor nutritivo, por isso, alguns produtores utilizam do método creep-feeding: Um local que somente o bezerro tem acesso, com cochos onde é fornecido esse alimento. O uso de creep-feeding ocorre na produção de bovinos de corte, tendo como forma de diminuir as faltas nutricionais para os bezerros, depois de 90 dias o leite materno tem uma queda. Além de que, disponibilizando essa demanda de nutrientes, facilita a adaptação do animal ao cocho e diminui o estresse ao desmame (COSTA, T.G., 2019). Essa técnica, reduz a dependência do bezerro com a mãe, ajudando a matriz recuperar-se mais rápido, melhorando o desempenho nutricional da mãe, consequentemente o bezerro que desenvolve mais rápido tendo aumento de peso ao desmame. (RESENDE, et al. 2018).


CONCLUSÃO


De acordo com o que foi estudado e relatado, devemos priorizar o conforto e o bem estar dos animais para que se tenha lucratividade dentro da propriedade. Se feito de maneira correta desde o nascimento do bezerro, o pecuarista colherá grandes frutos no futuro, tendo numerosos exemplares dentro de sua fazenda.
A Romancini, continuará abordando temas importantes como esse, levando conhecimento aos pecuaristas.


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